quinta-feira, 13 de maio de 2010

Municípios proíbem "Pulseira do sexo"


Do Portal Pró-Menino

Murillo Magalhães
Snap, tipo de “jogo sexual” praticado por crianças e adolescentes por meio do uso de pulseiras de diferentes cores, gerou polêmica no País. Casos de estupro de meninas envolvidas com a brincadeira foram registrados em algumas cidades, como Londrina (PR). Por isso, três cidades chegaram a proibir a comercialização do acessório. Muito mais do que um problema de violência sexual, a “brincadeira” retoma a necessidade de se avaliar a educação sexual oferecida às crianças e aos adolescentes.
Segundo a regra do jogo, a criança ou jovem que tiver uma de suas pulseiras arrebentadas por outro adolescente tem que realizar determinada prática sexual conforme a cor do acessório. A cor amarela, por exemplo, significa abraço. Já a preta, sexo. No Brasil, um conjunto de 20 pulseiras custa apenas 2 reais. Nem todos que usam a pulseira participam do jogo. Porém, o acessório se tornou parte deste código sexual.
O Portal Pró-Menino entrevistou o Coordenador de Programas da Childhood Brasil, Itamar Batista Gonçalvez, que atua na proteção da infância contra o abuso e a exploração sexual.
Pró-Menino - O jogo Snap é um exemplo da utilização de códigos por crianças e adolescentes relacionados ao sexo. Antigamente, existia a brincadeira “salada mista”. Por que estes códigos são criados ou existem, e como podem interferir no desenvolvimento de crianças e jovens?

Itamar Batista Gonçalves - Isso faz parte do desenvolvimento sexual de uma pessoa até o estágio adulto. Se a gente for lembrar, antigamente existiam brincadeiras como “pisar no pé”, que significava beijo. Elas sempre estão relacionadas com a busca pelo inusitado e pelo desconhecido. E, conforme o estágio sexual, vão se erotizando.
PM - O uso da pulseira incentiva a pedofilia?

Itamar - O uso da pulseira está muito mais relacionado à prática do abuso sexual. Espaços de socialização de crianças e jovens – como escolas – têm importante papel na prevenção. Infelizmente, a comunidade escolar e a família tratam a sexualidade como um tabu muito grande.
PM - Um menina de 13 anos foi estuprada em Londrina por três adolescentes (o mais velho tem 18 anos) devido ao uso da pulseira. Outros casos de estupro envolvendo o adereço também ocorreram pelo País. A partir daí, algumas cidades começaram a proibir o uso. O que acha desta medida? É eficaz?

Itamar - Acredito que proibir a utilização do acessório é ir na contramão de tudo que está aí. Não adianta a gente agir apenas com viés repressivo, principalmente num momento em que se fala tanto de direitos humanos. Não que eu seja a favor da brincadeira. Eu acredito que a prevenção tem que ocorrer. Porém, não deve ser transformada em medo do sexo. Em dois casos houve envolvimento de escolas e a proibição foi vista como a medida mais eficaz, o que não é verdade.
PM – Qual é a solução?

ItamarO foco tem que ser educação sexual.Nós, enquanto organização, e o governo temos um papel muito importante. A gente tem que trabalhar a informação. Muitas vezes os pais não têm tempo pra ajudar. E se não for na família que a criança ou o jovem obterá a informação, vai ser em outro lugar. É a mesma situação da internet. Nesse caso, um bom trabalho preventivo é navegar com a criança. Por isso, eu acredito que agora seja uma oportunidade para melhorar a atual situação. Precisamos desconstruir mitos sobre sexualidade e eliminar, por exemplo, o sentimento de culpa da criança abusada. Para isso, deve haver planejamento e ações. Como é trabalhado isso no currículo escolar? Os educadores têm formação sobre o assunto? Qual o papel social da escola no desenvolvimento sexual da criança e do adolescente? Precisamos conhecer cada fase do desenvolvimento da sexualidade. Inclusive, respeitar essas fases. Caso contrário, mudanças não ocorrerão.
PM – E quanto ao marco legal desse caso?

Itamar - Na lei nós temos formas de responsabilizar pelos abusos, não só na relação assimétrica (adulto e criança), mas também entre adolescentes, quando a prática sexual não é consentida. São as medidas socio-educativas que começam com a advertência e vão até a privação de liberdade.

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